sábado, 21 de abril de 2018

Raquel Kambinda Trindade – 1935-2018 - Escrito do mestre Alceu Estevam


crédito da imagem: Fabiana Ribeiro
Escrito do mestre Alceu Estevam, integrante do Grupo Urucungos, Puitas e Quinjengues desde sua fundação
Renasce hoje, dia 15 de abril de 2018, uma nova Raquel Trindade: a Raquel do protagonismo e do legado que ela deixou em vida aqui na terra, para que todos nós possamos fazer desse mundo um lugar melhor para viver, celebrar e conquistar os nossos direitos.
Em 10 de agosto, de 1936, lá em Recife, Solano Trindade, poeta, escritor, folclorista e artista plástico e a sua esposa, a coreografa Maria Margarida Trindade, tinham razões especiais para estarem felizes. Afinal, nasce Raquel Trindade, já com feição de artista, porque já se revelava arteira e inquieta. Mas só foi no Rio de Janeiro, quando os seus país foram morar em Duque de Caxias, que ela veio a ser registrada, então, Raquel é considerada pernambucana de nascimento e carioca de registro, que teve como testemunha o teatrólogo e ativista negro Abdias do Nascimento. Pai comunista e mãe presbiteriana, Raquel sempre ouvia da sua mãe que: “se Salomão tocava harpa, então não tinha problema algum dela tocar tambor…”, enquanto que o seu pai, esquerdista que era, lhe transmitiu o conceito da liberdade e da democracia.
E foi exatamente nessa época, no Rio de Janeiro que Raquel passa a conviver e participar dês’da sua infância dos variados grupos artísticos culturais da época como Teatro Folclórico de Aroldo Costa; Orquestra Afro Brasileira, de Abigail Moura; Balé Folclórico Negro, da Mercedes Batista e do Teatro Experimental da Negro, do Abdias do Nascimento. Paralelo a isso, Solano Trindade também a leva para beber na fonte da cultura europeia, assistindo vários concertos no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, saraus literários, peças teatrais e livros de autores da literatura brasileira e estrangeira. Foi nesta efeverscência que Raquel viu o seu pai criar o Teatro Popular Brasileiro, junto com o folclorista Edson Carneiros, e faz a sua estréia nos palcos estrangeiros quando excursiona com o seu pai e o TPB para a antiga Tchecoslováquia, hoje Tchéquia, e Polônia.
Depois de uns tempos no Rio, fazendo várias apresentações, a família Trindade muda para São Paulo e quando a artista plástico Assis assiste uma dessas presentações do TPB, ele convida todos para irem ao Embu das artes. Após a morte de Solano, a Raquel Trindade cria o Teatro Popular Solano Trindade (TPST) e a Nação Kambinda de Maracatu. Na cidade de Campinas. Quando, a convite do Antônio Nobrega, do Brincante, leciona na UNICAMP Danças Afro e Religiosas Brasileiras, é que o seu legado começa a ser transmitido e difundido dentro das universidades e na comunidade negra da cidade.
Na graduação ela dizia: “eu estou lecionando cultura afro brasileira e só há um negro no meu curso”, então, em conjunto com a Reitoria, ela cria um grupo de extensão Universitária e convida os funcionários da Unicamp e a comunidade negra local, para aprender a dançar maracatus, boi meu boi, jongos, sambas de roda e samba lenço, côco, guerreiros, lundu colonial e dança dos orixás. Após o término desse curso, a Raquel então propõe a criação do Grupo Urucungos, Puitas e Quinjengues, isto há trinta anos atrás.
Escreveu os livros “Embu: de Aldeia de M’Boy a Terra das Artes”; “Os Orixás e a Natureza”; “Mulheres negras contam sua história” e estava preparando um livro sobre o grupo Urucungos, Puítas e Quijengues e a sua biografia. Tem vários quadros artísticos espalhados pelo Brasil inteiro e coleciona algumas homenagens como o prêmio “Mulheres Negras Contam sua História” da Secretaria de Políticas Para as Mulheres (SPM), da Presidência da República e a Ordem do Mérito Cultural no Palácio do Planalto, em novembro de 2012.
Uma das grandes lideranças de mulheres negra do Brasil, Raquel Trindade, que tem, porque ainda está fazendo a passagem, a religião de matriz africana do candomblé como orientação espiritual, deixa para o Brasil umas das maiores referências da cultura popular de afro descendência, que é o Teatro Popular Solano Trindade, de responsorialidade do seus filhos Vitor Trindade e Dada Trindade e da sua nora, Elis Sibere Monte. Juntos com os seus netos Manoel Trindade, Zinho Trindade, Maria Trindade e Marcelo Tomé, em conjunto do o Grupo Urucungos Puitas e Quinjengues, continuarão com o seu legado para sempre.
Fonte: https://jornalistaslivres.org/2018/04/raquel-kambinda-trindade/ as 20h23 do dia 21/04

Dona Ivone Lara: Nossa Rainha do samba e exemplo de vida


Dona Ivone Lara nasceu em 13 de abril de 1922  na rua Voluntários da Pátria, em Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro. Foi a primeira filha da união entre a costureira Emerentina Bento da Silva e João da Silva Lara. Paralelamente ao trabalho, ambos tinham intensa vida musical: ele era violonista de sete cordas e desfilava no Bloco dos Africanos; ela era ótima cantora e emprestava sua voz de soprano a ranchos carnavalescos tradicionais do Rio de Janeiro, como o Flor do Abacate e o Ameno Resedá – nos quais seu João também se apresentava. Formada em enfermagem e serviço social, com especialização em terapia ocupacional, foi uma profissional na área até se aposentar em 1977. Nesta função trabalhou em hospitais psiquiátricos, onde conheceu a dra. Nise da Silveira.
Com a morte do pai, com menos de três anos de idade, e da mãe aos dezesseis, foi criada pelos tios e com eles aprendeu a tocar cavaquinho e a ouvir samba, ao lado do primo Mestre Fuleiro; teve aulas de canto com Lucília Guimarães e recebeu elogios do marido desta, o maestro Villa-Lobos.
Casou-se em 4 de dezembro de 1947 com Oscar Costa, filho de Alfredo Costa, presidente da escola de samba Prazer da Serrinha, com quem teve dois filhos, Alfredo e Odir. Foram casados durante 28 anos, até a morte de Oscar. Foi no Prazer da Serrinha onde conheceu alguns compositores que viriam a ser seus parceiros em algumas composições, como Mano Décio da Viola e Silas de Oliveira.
Compôs o samba Nasci para sofrer, que se tornou o hino da escola. Com a fundação do Império Serrano, em 1947, passou a desfilar na ala das baianas. E também Compôs o samba Não me perguntes, mas a consagração veio em 1965, com Os cinco bailes da história do Rio, quando tornou-se a primeira mulher a fazer parte da ala de compositores da escola de samba.
Em 1975, depois de seu filho Odir sofrer um acidente de carro, com o susto seu marido Oscar Costa, teve um enfarte fulminante e faleceu. Apesar de seu marido nunca ter nada contra sua carreira, ele não gostava das rodas de samba.
Aposentada em 1977, passou a dedicar-se exclusivamente à carreira artística. Entre os intérpretes que gravaram suas composições destacam-se Clara NunesRoberto RibeiroMaria BethâniaGal CostaCaetano VelosoGilberto GilPaula TollerPaulinho da ViolaBeth CarvalhoMariene de CastroRoberta SáMarisa Monte e Dorina. Uma de suas composições mais conhecidas, em parceria com Délcio Carvalho, foi Sonho Meu, sucesso na voz de Maria Bethânia e Gal Costa em 1978, cujo álbum ultrapassou um milhão de cópias vendidas.[1]
Dona Ivone também teve trabalhos como atriz, com participação em filmes, e foi a Tia Nastácia em especiais do programa Sítio do Pica-Pau Amarelo.
Em 2008, Dona Ivone interpretou a canção Mas Quem Disse Que Eu Te Esqueço no projeto Samba Social Clube. A faixa foi incluída, no ano seguinte, numa coletânea com as melhores performances do projeto.
Em 2008 ela perde seu filho Odir, vítima de complicações decorrentes da diabetes.
No ano de 2012, foi homenageada pelo Império Serrano, no grupo de acesso, com o enredo Dona Ivone Lara: O enredo do meu samba. Em 2010 foi a homenageada na 21.ª edição do Prêmio da Música Brasileira. Em dezembro de 2014 foi a homenageada na 19.ª edição do Trem do Samba. Um mês antes, Dona Ivone havia participado do primeiro dia de gravações do Sambabook, em homenagem à sua carreira da gravadora Musickeria. Cantores como Maria BethâniaElba RamalhoCrioloZeca PagodinhoMartinho da VilaArlindo CruzAdriana Calcanhoto e Zélia Duncan fizeram versões de canções de DonaIvone, enquanto ela própria gravou com Diogo Nogueira uma canção inédita, composta com seu neto, André.
Dona Ivone morreu no dia 16 de abril de 2018, em consequência de um quadro de insuficiência cardiorrespiratória após permanecer internada por três dias no Centro de Tratamento e Terapia Intensiva (CTI) da Coordenação de Emergência Regional (CER), no Leblon, Rio de Janeiro. O velório aconteceu na Quadra da Império Serrano, sua escola do coração, em Madureira, na Zona Norte da cidade. O enterro de Dona Ivone aconteceu no Cemitério de Inhaúma, no Rio de Janeiro.
Discografia
·         1970 - Sambão 70
·         1972 - Quem samba fica?
·         1974 - Samba minha verdade, minha raiz
·         1979 - Sorriso de criança
·         1980 - Serra dos meus sonhos dourados
·         1981 - Sorriso negro
·         1982 - Alegria minha gente
·         1985 - Ivone Lara
·         1986 - Arte do encontro (com Jovelina Pérola Negra)
·         1998 - Bodas de ouro
·         1999 - Um natal de samba (com Délcio Carvalho)
·         2001 - Nasci para sonhar e cantar
·         2004 - Sempre a cantar (com Toque de Prima)
·         2009 - Canto de Rainha (DVD)
·         2010 - Bodas de Coral (com Délcio de Carvalho)
·         2010 - Nas escritas da vida (com Bruno Castro)
·         2012 - "Baú da Dona Ivone"
·         2015 - "Sambabook Dona Ivone Lara" (DVD)
·         2015 - "Sambabook Dona Ivone Lara" (2 CDs)
Filmografia
·         1977 - Filme A Força de Xangô, interpretando Zulmira de Iansã[7]
·         1982 - Especial Sítio do Pica-Pau Amarelo, interpretando Tia Nastácia
Bibliografia
·         Mila Burns: Nasci para sonhar e cantar. Dona Ivone Lara, a mulher no samba; Editora Record; Rio de Janeiro2009; 173 páginas; ISBN 9788501083784
·         2010 -- "Ivone Lara, a Dona da Melodia" -- Katia Santos -- Ed. Garamond, Rio de Janeiro, 223 páginas; ISBN 978-85-7617-204-8; Fan page: https://pt-br.facebook.com/DILBYKS
·         2015 - "Dona Ivone Lara, a Primeira-Dama do Samba" - Lucas Nobile ~ Sambabook
Notas
 A data oficial de nascimento, que consta nos documentos de Ivone Lara é 13 de abril de 1921, como no seu registro eleitoral no TSE. Algumas fontes como UOL Música, mencionam que Ivone morreu logo depois de completar 97 anos, assim seu ano de nascimento seria 1921. Outras fontes, como Portal G1, afirmam que ela morreu aos 96 anos, sendo portanto de 1922. Na biografia Dona Ivone Lara: a Primeira Dama do Samba (página 18), o jornalista Lucas Nobile escreve que a mãe de Ivone Lara "aumentou a idade da filha em um ano", declarando o ano de nascimento 1921, para a emissão do documento de identidade, permitindo assim que a filha fosse matriculada na tradicional Escola Municipal Orsina da Fonseca em 1932. Naquele ano, Ivone ainda não tinha a idade mínima de ingresso, que era de onze anos.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Dona_Ivone_Lara

sexta-feira, 16 de março de 2018

Último pronunciamento de Marielle Franco antes de ser executada no Rio d...

Quem é Marielle Franco?

Como entender tamanha repressão, retalhação, tirar sonhos e esperanças. Por que calar de forma tão covarde e cruel uma mulher que queria apenas mostrar o cenário real de uma cidade ou de um país comandado pela corrupção. Queria apenas entender o que leva o ser humano ser tão desumanizado. Meus pesares para a família e que ela tenha uma passagem tranquila e fortalecida por todos seres de luz, você continuará brilhando e com certeza sua luta não foi em vão, outras milhares de "Marielle Franco" irão surgir para continuar sua luta. Descanse em paz.

domingo, 11 de março de 2018

Homenagem a Joaquim Pinto de Oliveira Tebas, o negro arquiteto do século 18


SASP realiza homenagem a Joaquim Pinto de Oliveira Tebas, o negro arquiteto do século 18
Date: 23/02/2018
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Créditos da matéria:
https://www.geledes.org.br/sasp-realiza-homenagem-joaquim-pinto-de-oliveira-tebas-o-negro-arquiteto-do-seculo-18/
O Sindicato dos Arquitetos no Estado de São Paulo (SASP) realiza, no dia 21 de março, às 19h, uma homenagem ao arquiteto Joaquim Pinto de Oliveira, conhecido como Tebas, um importante arquiteto do século 18. Tebas viveu a condição de escravizado durante os seus primeiros 57 anos de vida e se tornou um dos mais destacados construtores da época, sendo o responsável pela construção de importantes obras como a torre da primeira Catedral da Sé e o Chafariz da Misericórdia. Além disso, talhou a pedra de fundação do Mosteiro São Bento e ergueu o frontispício da Igreja da Ordem Terceira o Carmo.
Do SASP
“Em que pese a devastação da memória paulistana promovida a partir do início do século 20, Tebas representa o protagonismo negro na construção da cidade, do estado e do país, seja por meio de suas obras ainda presentes na paisagem urbana – caso das igrejas do Carmo e de São Francisco, bem como do cruzeiro localizado no centro da cidade de Itu –, seja na história da arquitetura e do urbanismo de São Paulo”, destaca o escritor e jornalista Abílio Ferreira, em artigo publicado no site do SASP.

Igreja Matriz da Sé (Foto de Augusto Militão de Azevedo, 1860). Tebas construiu a torre, em 1750, e executou a reforma do prédio, entre 1777 e 1778
A homenagem contará com a presença de historiadores e arquitetos envolvidos no processo do resgate histórico de Tebas. O SASP também o reconhecerá como arquiteto, tornando-o, simbolicamente, parte de seu quadro associativo.
“A sindicalização do Tebas ao SASP vai além do reconhecimento de sua importância material e simbólica para a arquitetura e a história paulistana”, ressalta Maurílio Chiaretti, presidente do SASP. “É reconhecer Tebas como pessoa humana que, com todas as dificuldades de um escravizado, ajudou no desenvolvimento técnico e artístico de importantes obras que vieram a revelar, principalmente, a sua força de luta pela liberdade”.
Durante o evento também será constituído um grupo para realizar estudos e pesquisas sobre esse importante personagem da história brasileira.
Sobre Tebas
Tebas nasceu em 1721, em Santos, litoral sul de São Paulo. Foi escravizado pelo português Bento de Oliveira Lima, célebre mestre de obras da região. Tebas teve os primeiros ensinamentos no ofício de pedreiro com Lima que, depois o levou para a cidade de São Paulo – que, na época, contava com um boom na construção civil – em busca de melhores oportunidades de trabalho.
O fato é que, já na década de 1750, Tebas teve uma ascensão como construtor, sendo o responsável, entre várias outras obras, pelo projeto e pela construção da torre da primeira Catedral da Sé. Morreu em 11 de janeiro de 1811, aos 90 anos, vítima de moléstia de gangrena. Seu velório e sepultamento foi realizado na Igreja de São Gonçalo.
Benedito Lima de Toledo, professor emérito da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAUUSP), em entrevista concedida à revista “Leituras da História” (2012), destacou que Joaquim Pinto de Oliveira soube captar a religiosidade da época e expressá-la de maneira muito pessoal. “Essa expressão da religiosidade é que o transformou em arquiteto e as suas obras em arte, disse Toledo, na ocasião. Pode-se dizer que Tebas foi decisivo para a constituição daquilo que Luís Saia, outro arquiteto de peso, chamou certa vez de período de ‘renovação estilística, ocorrido especialmente nas igrejas na segunda metade do século 18’”, afirma Abílio Ferreira.
O QUE: Homenagem a Tebas, o arquiteto do século 18
QUANDO: 21 de março. 19h
ONDE: Auditório do SASP. Rua Araújo, 216, Piso Intermediário. República, São Paulo.
MAIS INFORMAÇÕES: (11) 3229-7989 / comunicacao@sasp.arq.br